terça-feira, 23 de agosto de 2011

a grande família

Hoje na caminhada de fim de tarde ouvi the sweetest thing: um menino dos seus 10 anos perguntou ao amiguinho "há quanto tempo recebes semanada"?
Semanada my god. Onde já lá vai.

E dei por mim a voltar uns 15 anos atrás, quando me achava grande por ter umas notinhas no bolso.
Realmente o tempo passa.
E a infância fica lá longe.
E desses tempos é tão bom relembrar todos os pormenores que conseguirmos. Eu lembro que o meu quarto da casa antiga parecia gigante, mas não, afinal era mínimo. Lembro de cortar o cabelo no cabeleireiro do 1º andar, e ainda outro dia comentei com mummy se será que este ainda existiria? Lembro de ir todos os dias com os meus irmãos e primos na camionete da Escola Francesa, da D.Manuela a chamar-nos, do sr. Florêncio à nossa espera no portão da Escola. Lembro do cheiro das salas, do recreio cheio de raízes.
Lembro de dar um beijinho aos meus pais quando acabavamos de jantar e pedir licença para sair da mesa.
Lembro-me de esperar a minha irmã adormecer e ir deitar-me com os meus pais, achando que estava a ser-me dada uma grande prova de confiança por poder ficar acordada até mais tarde. Lembro-me de dormir numa cama com gavetão onde dormia a minha irmã, e lembro que tinha que adormecer virada para ela. E fazia com que isso fosse um ritual, uma coisa normal, uma protecção à mais nova. Como se tivesse uma capa transparente com super poderes de irmã mais velha. Já com o meu irmão, raro foi o dia que não fui ao quarto dele dar-lhe entre 20 a 25 beijos de boa noite, em que não contamos a nossa anedota, a nossa piada, raro foi o dia em que não interpretamos os gato fedorento, em que não criamos histórias com sotaque brasileiro, inglês ou francês. Já chorei porque ele passou a ser um adolescente e mostrou-me que adolescentes não precisam de irmãs mais velhas a darem boa noite ou a ir buscar à escola. Graças a Deus já passou essa fase e aceitou-me de volta (glória a vós Senhor)
Isto tudo e muito mais eu lembro. E sem querer parecer cliché, mas é realmente bom ter a sensação de que tivemos uma infância feliz. Que foi tudo muito mais positivo do que negativo. Que nem me lembro de coisas más a não ser ter feito xixi nas calças uma vez na escola.
Sei que muito discutia com a minha irmã. Mas nem sei os motivos.
Mas uma coisa eu sei, é incrível como queremos passar para os nossos, o que nós tivemos, o que aprendemos, como chegamos até aqui.
Não mudarei uma vírgula da educação que tive. Um dia que a venha a passar aos meus filhos vai chapa 5.
Quero dar os mesmos limites que eu recebi. Castigar porque respondeu mal ou porque mentiu. Sem exageros, sem extremos.
Não quero dizer-lhes que no meu tempo não era assim. Eu quero que seja igual. Quero que eles tremam por saberem que fizeram mal. Quero que tenham consciência disso. Assim como quero que cheguem a casa radiantes com as boas notícias: que aprendeu um novo truque, que já faz o plié muito bem, que teve boa nota a matemática, que a paixoneta é correspondida. E quero isto tudo como eu tive.

A minha família é grande, somos muitos, somos amigos, somos unidos.
É engraçado ver que não só a educação é partilhada, como também pequenas coisas do dia-a-dia, formas de agir. As rotinas dos almoços na minha avó, em que há comida para todos os gostos, salada com e sem cebola, bifes com molho e bifes para as da dieta, há sempre comida alternativa para quem não gosta de cozido. Temos também os almoços de sábado, e os de domingo, e o facto de só decidirmos se será na nossa casa, na chinha ou na lulu, 5 minutos antes. É tão boa esta descontração de venha o que vier. Gosto mesmo muito. Gosto ainda mais de chegar à minha 2a cidade, o meu Rio de Janeiro, e ter lá os meus tios, a minha prima, que além de prima consegue ser uma das minhas melhores amigas. E saber que a distância não diminui em nada o que nos une enquanto família.

Gosto de dar por mim a comprar coisas para a casa nova, e sem querer estou a comprar tudo que existe na casa dos meus pais. Chamamos a isso o quê? Conforto? Felicidade?
Pensar na nossa casa como uma extensão da casa dos pais. É bom.
Mas o melhor para contar é a minha avó comprar uma engenhoquice de colocar o molho da salada, e dar um às filhas e um às netas. E melhor ainda é eu receber a engenhoquice com um sorriso nos lábios, pronta a colocar em prática na salada da casa nova.

E com tantas coisas boas, como eu poderia não ser feliz?
É uma coisa inexplicavelmente boa. É como se fossemos trapezistas, mas daqueles com a rede por baixo, em que podemos cair à vontade. Sempre alguém nos segura.

A família é tudo. E no que me assiste, a minha é a melhor.





2 comentários:

Mariana disse...

vc é... (indescritivel)
te amo, minha prima, minha melhor amiga, minha casoa.
lágrimas boas escorrem pelo gosto doce dessa infância.
amo ser parte dessa familia.

Ariel disse...

nota 10!!!! AMEI :)